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VI Seminário Estadual de Agroecologia 
inicia nesta quinta, em Pinhalzinho
Além de palestras e debates, espaço terá Feira de Produtos Agroecológicos, oficinas com temas específicos e visitas a experiências agroecológicas
             O VI Seminário Estadual de Agroecologia (SEA), que acontece nesta quinta e sexta-feira (23 e 24), no Parque da Efacip, em Pinhalzinho, já movimenta os municípios do Oeste do Estado. Parte dos 1,4 mil participantes aguardados chega à região já nesta quarta-feira e a rede hoteleira de Pinhalzinho e de municípios vizinhos registra ocupação quase que total. Alojamentos foram viabilizados para alguns grupos estudantes, agricultores e delegações de outras regiões e estados.  
            A abertura do evento ocorre na quinta, às 9hrs. Além das palestras e debates, o público também poderá escolher pela participação em oficinas com temas específicos e visitas a experiências agroecológicas e cooperativas na região.
            O Seminário pretende ir além do estímulo à produção e o consumo de alimentos agroecológicos, e discutir um modelo que se consolida não só pela produtividade, como pela sua sustentabilidade. São mais de 20 entidades, instituições, movimentos e prefeituras participando da organização do Seminário.
Inscrições
            As inscrições ainda estão disponíveis no site www.seagroecologia2013.blogspot.com.  O valor é R$ 20,00 para alunos e agricultores e de R$ 30,00 para técnicos e profissionais. O valor dará direito aos materiais do seminário, participação em todos os espaços do evento, refeições e certificado.
Feira
            Mais de 40 associações, entidades e cooperativas que produzem alimentos sem agrotóxicos estarão na Feira dos Saberes e Sabores Agroecológicos, que acontecerá paralelamente ao Seminário. É um espaço que mostrará a força da produção agroecológica. A Feira também será o local onde ocorrem todas as atividades culturais.


Brasil lidera uso de agrotóxicos,
mas fica em terceiro na produção
Seminário em Pinhalzinho questiona esta e outras contradições da produção agrícola no Brasil e em Santa Catarina
                O Brasil não ocupa o primeiro lugar na produção agrícola, no entanto, está em primeiro na utilização de agrotóxicos em todo mundo. Em 2012, por exemplo, houve um consumo médio de seis quilos de agrotóxicos por habitante brasileiro. Causando inúmeros distúrbios e doenças nos produtores e consumidores.
               Agrotóxicos barrados no exterior são permitidos aqui e, a cada ano, o consumo de produtos tóxicos aumenta. Esta é apenas uma das contradições apontadas pelas entidades que organizam o VI Seminário Estadual de Agroecologia, que acontece em 23 e 24 de maio, no Parque da Efacip, em Pinhalzinho.
                “São mais de 20 entidades, movimentos, organizações, associações de produtores, universidades e centros de pesquisa reunidos em torno da ideia de que é preciso, com urgência, rever o modelo de produção agrícola no Brasil. E estamos apontando um modelo, na prática, com o Seminário”, Inês Claude Burg, professora do curso de Agronomia com ênfase em Agroecologia da Universidade Federal da Fronteira Sul, que integra a Comissão de Organização do evento.
Pesquisador critica omissão do Estado
                A contraditória posição brasileira em relação aos agrotóxicos fica clara numa entrevista concedida ao portal G1 pelo pesquisador, doutor em Saúde Pública e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Wanderley Pignati. Ele analisou a posição do País no uso de agrotóxicos e chocou a opinião pública ao afirmar que Estado é omisso e responsável por mortes ao permitir que agrotóxicos proibidos em 1985 na União Européia (UE), Estados Unidos e Canadá, sigam sendo comercializados no País.
                Veja a entrevista completa abaixo:
Por que o Brasil lidera o ranking de uso de agrotóxicos? Temos mais pragas que os demais países?
É uma somatória de razões. A mais óbvia é que somos um dos maiores produtores agrícolas do mundo, de soja principalmente. Uma outra é que nossas sementes melhoradas já são pensadas para usar agrotóxicos. São selecionadas até um certo ponto em que, realmente, dependem destes produtos. E, para dar a produtividade que se espera, demandam grandes quantidades. Em terceiro lugar, não temos mais pragas, mas, por usarmos agrotóxicos há tantos anos, nossas pragas ficaram mais resistentes. É um espiral que vai aumentando.
Como outros países evitam o uso de agrotóxicos?
Eles limitam o uso de agrotóxicos mais tóxicos. Aqui usamos agrotóxicos que foram proibidos em 1985 na União Européia (UE), Estados Unidos e Canadá. No Brasil, estamos tentando revisar o uso de 14 tipos há dois anos e não conseguimos, porque dependemos do parecer do Ministério da Agricultura, do Ministério do Meio Ambiente e o parecer do próprio sindicato dos produtores.
Na UE existe uma fiscalização mais rigorosa. Aqui aplicamos dezenas de agrotóxicos por avião, coisa que é proibida lá. Jogamos agrotóxicos por avião perto de casas, animais, gado, nascentes de rios e córregos. Outro fator importante é a conscientização da população europeia, que cobra este tipo de cuidado do governo e dos produtores.

Agrotóxico faz mal mesmo se for usado corretamente?
Não existe uso seguro. Isso é uma fala dos produtores de agrotóxico. Por exemplo, se o trabalhador que aplica estiver como um astronauta – isolado com todos os equipamentos de proteção (EPI), inclusive para respirar – ele é menos prejudicado, mas não existe uma proteção 100% dos trabalhadores. E qual a proteção ao ambiente? Isso vai sempre deixar resíduos em alimentos, contaminar rios, ar, lençóis freáticos. Que segurança é essa?
 E se formos mais a fundo nessa discussão, veremos que é uma contaminação intencional. Em termos jurídicos, fala-se em crime culposo quando a pessoa não teve a intenção de cometê-lo e doloso quando teve. Aqui não é um crime culposo. Não é culpa do vento que mudou o agrotóxico de direção, mas do agricultor que cometeu um ato inseguro e intencional. Existe a intenção de poluir para atingir o alvo dele – no caso, os insetos, as pragas. Ele aceita conscientemente essa consequência.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as intoxicações por agrotóxicos são três milhões anuais. Destes, 2,1 milhões de casos acontecem nos países em desenvolvimento. Mais de 20 mil pessoas morrem no mundo, 14 mil estão nas nações do terceiro mundo. Existe alguma razão para que essas mortes concentrem-se nestes países?
Utiliza-se mais agrotóxico, em primeiro lugar, porque se produz mais alimentos em países em desenvolvimento. Muitas dessas lavouras usam agrotóxicos proibidos na União Europeia, EUA e Canadá. Ora, se são mais tóxicos e proibidos lá, naturalmente acontecerão mais mortes aqui na América Latina e na África. E quer saber mais? Muitos desses agrotóxicos são produzidos no primeiro mundo e vendidos para o terceiro.
Como um agrotóxico provoca a morte de uma pessoa? Que outros males eles podem causar à saúde?
Depende do agrotóxico. Aqui no Mato Grosso, por exemplo, já vimos caso de trabalhador que estava no trator com o ar condicionado ligado, jogando agrotóxico. Como o filtro de ar estava vencido, e ele não usava máscara dentro do trator, morreu de intoxicação aguda. Alguns agrotóxicos também causam câncer, problemas neurológicos, má formação fetal e desregulação endócrina. São extremamente prejudiciais à saúde humana. Estão na água, no ar, na chuva.
Os defensivos agrícolas demoram de três a quatro anos para degradar e o produto é tão prejudicial quanto a substância inicial. Um grande problema são doenças crônicas que acontecem durante anos de uso continuado de níveis baixos de agrotóxicos. Existe hoje a determinação de um limite máximo de resíduo por alimento. Esse limite não deveria existir, é absurdo. Cada pessoa tem uma sensibilidade diferente ao produtos. Sabe como esse limite é determinado? A partir da média da sensibilidade das pessoas, são medidas arbitrárias. No Brasil, por exemplo, um quilo de soja pode ter 10 miligramas de glicosato [princípio ativo de um agrotóxico famoso]. Nos EUA o limite é de 5 mg, na Argentina 5 mg, mas na Europa é 0,2 mg.

Qual a punição dada ao agricultor que permite que seus funcionários ou clientes sejam intoxicados no Brasil?
Primeiro ele vai responder ao Ministério do Trabalho, porque será notificado como um acidente de trabalho. Depois, podem entrar com uma ação de crime doloso [intencional] contra ele. Porque se contratou, tem que dar toda a proteção ao trabalhador. A punição depende muito da força do Sindicato.
Na sua opinião, os alimentos transgênicos são uma solução para o uso de agrotóxicos?
Pelo contrário. Alguns transgênicos são feitos para ser mais resistentes aos agrotóxicos, por isso se usa ainda mais, como a soja resistente ao glicosato.
Quais são as lavouras que mais usam agrotóxicos no Brasil?
Por hectare é o algodão. Logicamente não comemos algodão, mas sua semente é usada para fazer ração de gatos e outros animais. Outras lavouras que usam muito agrotóxico são as de tomate, morango, hortaliças em geral, soja e milho.
Como se proteger? Basta lavar bem as verduras e legumes?
Não. O consumidor deve também consultar os dados do PARA [Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos] da Anvisa. Nos dados de 2009, ele descobrirá os alimentos que têm problemas e poderá evitá-los. Mas é preciso ainda pressionar a Secretaria de Saúde e do Meio Ambiente para que façam uma vigilância mais dura.
VEJA PROGRAMAÇÃO COMPLETA SEMINÁRIO
QUINTA-FEIRA – 23/05
8h - Recepção, Inscrição e Café da manhã.
9h - Abertura
10h - Palestra I
TEMA: Agroecologia e desenvolvimento (ATER)
PALESTRANTE: Gervasio Paulus (Diretor Técnico da Emater-RS)
11h 30 - Debate
12h 30 - Almoço
14h - Abertura da Feira
14h 30 - Mesa Redonda I - Agroecologia e Soberania Alimentar: Ameaças dos transgênicos e agrotóxicos 
Leonardo Melgarejo (representante do MDA na CNTBio)
Rubens Nodari (Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC)
Eduardo Amaral Borges (Conselho Nacional de Segurança Alimentar)
Coordenador:  Antônio Inácio Andriolli (Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS)

Mesa Redonda II -  Desafios da Certificação Orgânica e Agroecológica
Eduardo Amaral (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA)
Laercio Meireles (Rede Ecovida de Agroecologia/ Centro Ecológico - RS)
Coordenador: Natal João Magnanti (Centro Vianei)
17h 30 - Apresentações (Na Feira)
18h 30 - Janta
20h 30 -  Atividade Cultural
SEXTA-FEIRA – 24/05
7h - Café
8h 30 - 12h  - Oficinas/Minicursos
1. Sementes Crioulas
2. Manejo de Água e Solo
3. Plantas Medicinais
4. Certificação Participativa
5. Reaproveitamento de Alimentos
6. Agroecologia e Comercialização
7. Agroecologia e Juventude
8h 30 - 12h -  Relatos de Experiências
1. PAA – PNAE 
2. Leite Orgânico Certificado
3. Associativismo e Agroecologia
4. Soja Orgânico
5. Sistemas Agroflorestais
6. Certificação Agroecológica-Hortifruticultura
8h30 - 12h - Visitas
1. Horticultura/fruticultura
2. Produção de Leite a Base de Pasto
3. Bioconstrução

12h - Almoço
13h 30 - Palestra II - Convergências e Divergências: a política nacional de agroecologia e produção orgânica
PALESTRANTES:  Natal João Magnanti (Centro Vianei) e João Carlos Costa Gomes (Embrapa Clima Temperado - Pelotas - RS)
15h 30 -  Encaminhamentos e Encerramento com Coquetel Agroecológico.




Seminário de Agroecologia espera
público superior a 1,4 mil pessoas

                O VI Seminário Estadual de Agroecologia (SEA), que acontece em 23 e 24 de Maio, no Parque da Efacip, em Pinhalzinho, já registra centenas de inscrições on line e deve superar a marca de 1,4 mil participantes, prevista pela Comissão Organizadora. Além das palestras e debates, o público também poderá escolher pela participação em oficinas com temas específicos e visitas a experiências agroecológicas e cooperativas na região.
                “A procura é grande, com destaque para as oficinas. Algumas já estão atingindo a lotação prevista”, afirma Claudio Junior Weschenfelder, membro da comissão organizadora do VI SEA.  O Seminário pretende ir além do estímulo à produção e o consumo de alimentos agroecológicos, e discutir um modelo que se consolida não só pela produtividade, como pela sua sustentabilidade.
                São mais de 20 entidades, instituições, movimentos e prefeituras participando da organização do Seminário.
Inscrições
As inscrições estão disponíveis no site www.seagroecologia2013.blogspot.com, com o pagamento de R$ 20,00 por alunos e agricultores e de R$ 30,00 por técnicos e profissionais. O valor dará direito aos materiais do seminário, participação em todos os espaços do evento, refeições e certificado.




Minicursos e visitas a experiências são 
destaques em Seminário de Agroecologia

                Os minicursos e as visitas a experiências agroecológicas, previstos para o segundo dia do VI Seminário Estadual de Agroecologia, já tem grande procura por parte do público que participará do evento, que acontece em 23 e 24 de Maio, no Parque da Efacip, em Pinhalzinho.
                Na sexta-feira (24), das 8h 30 às 12h, os participantes do Seminário poderão escolher entre sete oficinas e minicursos, em áreas como sementes crioulas, manejo de água e solo, plantas medicinais e aproveitamento de alimentos. Ao mesmo tempo, ocorrem três visitas orientadas, nas áreas de horticultura e fruticultura, produção de leite a base de pasto e bioconstrução e seis relatos de experiências, como uma específica em associativismo e agroecologia (veja lista completa abaixo).
                “Os debates oferecem uma base teórica importante, mas queremos, com as oficinas e visitas, mostrar experiências práticas e objetivas de como o modelo agroecológico é viável e traz benefícios a quem produz e a quem consome”, afirma Adriano Scariot, da Comissão de Organização do VI Seminário de Agroecologia.
Bioconstrução entre visitas
                Uma das experiências que terá visitação programada na sexta-feira (24) é a de “bioconstruções”. São obras onde a preocupação ecológica está presente desde a concepção até a ocupação. No projeto, as bioconstruções utilizam materiais que não agridam o ambiente, reciclam e aproveitam resíduos, reduzindo a utilização de matérias primas. Os projetos buscam aproveitar todos os recursos disponíveis, com o menor impacto, e levar isso inclusive para o ambiente interno, na mobília e no aproveitamento da luz que vem do exterior.  “É uma das visitas em que observamos maior curiosidade por parte da população, já que envolve também um estilo de vida próprio”, observa Adriano.

PROGRAMAÇÃO DE OFICINAS, MINICURSOS, VISITAS E RELATOS DE EXPERIÊNCIAS 
SEXTA-FEIRA – 24/05
8h 30 - 12h  - Oficinas/Minicursos
1. Sementes Crioulas
2. Manejo de Água e Solo
3. Plantas Medicinais
4. Certificação Participativa
5. Reaproveitamento de Alimentos
6. Agroecologia e Comercialização
7. Agroecologia e Juventude
8h 30 - 12h -  Relatos de Experiências
1. PAA – PNAE 
2. Leite Orgânico Certificado
3. Associativismo e Agroecologia
4. Soja Orgânico
5. Sistemas Agroflorestais
6. Certificação Agroecológica-Hortifruticultura
8h30 - 12h - Visitas
1. Horticultura/fruticultura
2. Produção de Leite a Base de Pasto
3. Bioconstrução




Feira reunirá produtos livres de agrotóxicos no VI Seminário Estadual de Agroecologia
Ainda há vagas para associações, entidades e cooperativas interessadas em participar
                Associações, entidades e cooperativas que produzem alimentos sem agrotóxicos terão espaço em uma Feira de Produtos Agroecológicos, durante o VI Seminário Estadual de Agroecologia, que acontece em 23 e 24 de maio, no Parque da Efacip, em Pinhalzinho. A Feira também será o local onde ocorrem todas as atividades culturais do Seminário, o que trará ainda mais visitantes para os estandes dos expositores.
                São 40 vagas disponíveis e segundo Paulo Ricardo Ficagna, professor da Udesc, responsável pela organização da Feira dos Saberes e Sabores Agroecólogicos, que acontecerá paralelamente ao VI Seminário Estadual de Agroecologia, ainda há algumas vagas disponíveis. “Aconselhamos as associações e cooperativas que façam contato o mais rápido possível, porque temos poucas vagas. É um espaço que servirá exatamente para  mostrar toda força da produção agroecológica, e quanto mais participantes, melhor para quem trabalha com este modelo de produção”, afirmou Paulo.  
                Mais de 20 entidades, instituições, movimentos, universidades e prefeituras participam da organização do Seminário.  
Inscrições
                As inscrições estão disponíveis no site www.seagroecologia2013.blogspot.com, com o pagamento de R$ 20,00 por alunos e agricultores e de R$ 30,00 por técnicos e profissionais. O valor dará direito aos materiais do seminário, participação em todos os espaços do evento, refeições e certificado.


                     
Lei de Ater: exclusão da Agroecologia e outras armadilhas
Artigo publicado na Revista: Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Vol. 4, nº 1, Ago/Dez, 2011. Porto Alegre: EMATER-RS-ASCAR. 2011. pp.23-33. 
Lei de Ater: exclusão da Agroecologia e outras armadilhas
CAPORAL, Francisco Roberto[1]
Resumo
A discussão sobre Assistência Técnica e Extensão Rural volta no cenário brasileiro, pois, pela primeira vez, o país conta com uma Lei de Ater. Neste texto, pretendemos fazer uma breve aproximação a aspectos da Lei que se caracterizam ou como retrocessos com respeito ao que vinha ocorrendo de 2003 a 2009, ou como elementos que podem representar futuros problemas para a ação extensionista e para as entidades. Começamos constatando que, na elaboração da Lei 12.188/2010, os gestores menosprezaram a participação dos setores interessados. Com isso, em relação à Pnater de 2003, observou-se a exclusão da Agroecologia. Ao longo do texto, são construídas algumas hipóteses que poderão contribuir para estudos que busquem uma maior compreensão sobre a eficácia da Lei de Ater e seus possíveis impactos negativos.
Palavras-Chave: Agroecologia, Extensão Rural, Lei de Ater, Políticas Públicas



                              Engenheiro Agrônomo, Doutor pelo Programa de Agroecología, Campesinado e Historia, da Universidade de Córdoba, Espanha. Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Membro do Núcleo de Agroecologia e Campesinato - NAC e do Observatório de Ater – OBSERVATER, da UFRPE. Endereço: Rua Maria Amélia da Silveira Rocha, nº 395, Camaragibe, PE.  Email: caporalfr@gmail.com



Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agroecologia

Adriano Scariot (1)

Nos últimos anos, o Brasil vive um momento onde se busca uma transição entre um modelo público de Assistência técnica e Extensão Rural (ATER) difusionista voltado ao produtivismo, que predominou no Brasil durante meio século, para um modelo agroecológico, onde passam a ter centralidade outros aspectos da vida rural, não apenas a produção. As conseqüências do primeiro modelo já são bem conhecidas (esgotamento de recursos naturais e biodiversidade, endividamento, êxodo rural, erosão dos conhecimentos tradicionais, subordinação da agricultura á indústria, dependência tecnológica, etc). Mais tarde se descobriu que esse modelo estava respaldado por uma intencionalidade política: Consolidar a chamada revolução verde que propunha a modernização conservadora da agricultura em benefício do setor agroindustrial. Os principais prejudicados nesse processo foram os agricultores familiares e camponeses. Na esteira deste modelo se fortalece um movimento de constestação, que dá origem a uma nova ciência - a agroecologia - que passa a ganhar espaço no Brasil durante os anos 90 e, articulando-se com inúmeras experiências práticas e teóricas se consolida como uma alternativa viável ao modelo produtivista. Durante essa mesma década o Sistema Brasileiro de ATER foi desmontado, várias empresas públicas estaduais de ATER desapareceram e a EMBRATER foi extinta. Nesse período, algumas ONGs e, em dado momento, empresas públicas estaduais, assumiram o protagonismo no trabalho de fortalecimento da agroecologia.
Com a derrota política do modelo neo-liberal nas eleições presidenciais de 2002, abre-se um novo espaço institucional para o avanço da agroecologia. Já em 2003, no âmbito do Ministério do Desenvolvimento Agrário formula-se uma nova Política Nacional de ATER – Pnater - onde os princípios da agroecologia merecem destaque, norteando em grande medida as políticas propostas para o setor. Contudo, a liberação dos transgênicos e o amplo incentivo do governo federal ao agronegócio consolidam ainda mais o modelo agrícola agro-exportador já estruturado no país, elevando-o ao status de estratégico para a economia brasileira. Assim, a agroecologia, embora amplamente difundida pelo MDA através de políticas públicas de incentivo do governo federal, não consegue se erigir enquanto uma política de Estado. A Agroecologia passa a dividir espaço no campo institucional com outra política que privilegia o modelo agrícola antagônico – o agronegócio produtivista, tornando-se uma espécie de política compensatória. Mesmo com dificuldades, no campo prático vêm se desenvolvendo experiências de sucesso, como é o caso do avanço na implementação do Pastoreio Racional Voisin, prática de manejo de cunho agroecológico que vem se destacando na viabilização da bovinocultura de leite em muitas unidades de produção familiares no Oeste catarinense. Trata-se de uma importante evidência de que a agroecologia é capaz de gerar alimento em grande escala e renda, preservando a qualidade do ambiente.
            Em 2010 ocorre uma importante mudança no campo jurídico-institucional. Trata-se da instituição da lei de ATER (12.188/2010), que vem substituir a Pnater estabelecida em 2003. Vista num primeiro momento como um avanço por respaldar um sistema público de ATER, conferir-lhe mais estabilidade e permitir o fortalecimento das empresas públicas estaduais sobrevivente, a lei hoje gera contestações no campo dos defensores da agroecologia. Dados recentes como os apresentados por Diniz, Tavares de Lima e Almeida* - relativos ao baixo percentual de chamadas públicas de projetos de ATER aprovadas pelo MDA em 2011 que contemplam atividades em Agroecologia - geram dúvidas sobre a permanência da sua centralidade no âmbito das políticas públicas de ATER.
            Pela sua magnitude e o conjunto multidimensional de fatores que abarca, a Agroecologia necessita de políticas públicas mais robustas para se consolidar, capazes de fortalecer experiências autênticas em andamento, estimular demanda, subsidiar verdadeiramente a produção e comercialização e articular ensino, pesquisa e extensão nesse campo. Necessita ser, portanto, uma prioridade pública, uma “política de Estado” e não apenas de governo. É nesta direção que os defensores da agroecologia precisam lutar, sob pena de sua marginalização, de relegar a agroecologia ao estigma de eterna “alternativa”. Não queremos que ela seja uma alternativa, mas sim, o modelo de agricultura preponderante. Quem ganha com isso são os agricultores familiares e camponeses, a população urbana consumidora de água e alimentos e os ecossistemas que nos possibilitam vida.

* DINIZ, Paulo Cesar, TAVARES de LIMA, Jorge e ALMEIDA, Aniérica. Chamadas Públicas - 6 Cadernos de Agroecologia – ISSN 2236-7934 – Vol 6, No. 2, Dez 2011

1. Eng. Agrônomo Epagri, mestre em extensão rural UFSM, coordenador estadual do Sindaspi




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